Projeto Vale Sustentável capacita 30 agricultores em coleta de sementes do Bioma Caatinga

A Caatinga é o único Bioma exclusivamente brasileiro, ocupando cerca de 11% do território nacional, principalmente na região Nordeste e em partes do Norte de Minas Gerais. Entre os dias 10 a 14 de março, o Vale Sustentável realizou o Curso de Coletores de Sementes do Bioma Caatinga para 30 agricultores e agricultoras rurais dos municípios de Assú e Carnaubais, no Rio Grande do Norte. O Projeto tem como entidade executora a Associação Norte-Rio-Grandense de Engenheiros Agrônomos (ANEA), em parceria com a Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

O curso foi ministrado no Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Carnaubais/RN e contou com a presença de agricultores, assentados da reforma agrária e de representantes do Serviço de Assistência Rural (SAR). Entre os assuntos abordados na capacitação pelos instrutores Luciano Bezerra e Ana Lúcia, estão a quebra de dormência de plantas nativas, sistemas agroflorestal (voltado para as plantas nativas da Caatinga), agrofloresta e a importância das abelhas para a polinização da vegetação nativa, das culturas agrícolas e sobretudo para a continuidade da espécie humana.

A quebra de dormência das sementes da Caatinga é essencial para garantir a germinação rápida e uniforme, ajudando na recuperação de áreas degradadas e na produção de mudas para comercialização. Dona Ana é beneficiária do projeto desde a primeira versão que teve início em 2013, hoje ela ministra o curso para outras comunidades. Ela explica a importância da quebra de dormência. “A dormência é um mecanismo natural que impede a semente de germinar imediatamente após cair no solo, garantindo que a germinação ocorra em condições favoráveis. No Bioma Caatinga, muitas sementes têm dormência fisiológica ou mecânica, devido à adaptação ao clima seco e à escassez de água”.

Métodos de Quebra de dormência na Caatinga

Escarificação mecânica – Lixar ou arranhar a casca dura da semente para facilitar a entrada de água. Exemplo: Jatobá (Hymenaea courbaril);
Tratamento térmico – Mergulhar as sementes em água quente (70-80°C) por alguns minutos para amolecer a casca. Exemplo: Angico (Anadenanthera colubrina);
Imersão em ácido sulfúrico – Usado para sementes com casca extremamente dura, como a Baraúna (Schinopsis brasiliensis);
Estratificação úmida – Manter as sementes em ambiente úmido e frio por algumas semanas para simular as condições naturais de germinação.

Nesta sexta-feira (14), os participantes se deslocaram até o Assentamento Professor Maurício de Oliveira, em Assú, para a aula de campo. O meliponário serviu de laboratório, onde os agricultores puderam ver de perto as abelhas Jandaíra – nativas do Bioma e a flora local que serve de alimentação para a espécie. Além disso, visitaram o quintal de Dona Ana que possui frutíferas diversas, uma infinidade de sementes e viveiro de mudas.

A intenção da visita é mostrar aos homens e mulheres rurais as oportunidades advindas da coleta que vão desde a produção e venda de sementes nativas a produção de mudas para comercialização e para outros fins como programas de agricultura sustentável e sistemas agroflorestais; comércio de sementes para pesquisa e bancos genéticos; produção de alimentos e produtos naturais; ou até mesmo mercado de sementes para paisagismo e arborização urbana.

Coletar sementes da Caatinga é uma ação essencial para a preservação, restauração e valorização desse Bioma A Caatinga abriga grande biodiversidade e espécies endêmicas. No entanto, sofre com desmatamento, desertificação, queimadas e expansão agrícola sem manejo sustentável. A coleta deve ocorrer de forma responsável, isso significa respeitar os períodos certos, escolher árvores matrizes saudáveis e não retirar sementes em excesso para não prejudicar a regeneração natural da Caatinga.

O curso contou com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Carnaubais/RN e também da Prefeitura de Carnaubais, por meio da Secretaria de Agricultura.