CARDEAL COTADO PARA PRIMEIRO PAPA AFRICANO EM 1.500 ANOS APRESENTA RENÚNCIA

O cardeal Peter Turkson, visto como candidato a se tornar o primeiro papa de origem africana em cerca de 1.500 anos, apresentou sua renúncia ao Vaticano, segundo pessoas familiarizadas com o assunto confirmaram à agência Reuters neste sábado (18).

Turkson, 73, natural de Gana, tem atuado como um dos principais conselheiros do papa Francisco para questões relacionadas à emergência climática e à justiça social e é o único africano a chefiar um departamento no Vaticano. O ganense lidera o setor ligado à promoção do desenvolvimento humano integral, estruturado há cinco anos para lidar com assuntos como migração, paz e justiça.

De acordo com fontes do Vaticano, que falaram sob condição de anonimato, Francisco ainda não se pronunciou sobre o pedido de renúncia. Outra fonte informou à Reuters que Turkson, que em dois anos completa a idade em que os bispos precisam, compulsoriamente, aposentar-se, estava farto das disputas internas da Igreja Católica.

A saída do cardeal deixaria o Vaticano sem nenhum africano à frente de um departamento importante. O cardeal Robert Sara, da Guiné, que representava o continente no Vaticano ao lado de Turkson, aposentou-se no início deste ano, quando completou 75 anos.

O departamento liderado por Turkson passou por uma revisão externa neste ano, a pedido do papa e chefiada pelo cardeal Blase Cupich, de Chicago. As notícias sobre seu provável pedido de renúncia chegam após outros dois membros do departamento saírem nos últimos meses, um devido à aposentadoria, outro sem razões claras.

A Igreja Católica teve diversos papas nascidos no Norte da África no início de sua história. O último, porém, ocupou o posto no século 5. Mesmo que Turkson deixe o cargo no Vaticano, ele poderia, até completar 80 anos, entrar na disputa de nomes para substituir Francisco após o pontífice morrer ou se aposentar, segundo as regras da instituição.

De acordo com informações do blog italiano Messainlatino, que publicou pela primeira vez a informação, o cardeal ganense permaneceria no cargo até o próximo dia 31.

Um dos possíveis nomes cotados para substituí-lo, segundo a Agência Católica de Notícias (CNA, na sigla em inglês), é o do cardeal italiano Francesco Montenegro, arcebispo aposentado de Agrigento, comuna na região da Sicília. O papa Francisco o conheceu durante sua primeira visita à ilha siciliana de Lampedusa, região onde desembarcam muitos imigrantes vindos da África para a Europa, em 2013, e o convidou para se mudar para Roma, ainda que não tenha lhe oferecido um cargo.

O nome de Peter Turkson chegou a ser apontado como um dos favoritos em 2013, quando a Igreja elegeu Francisco como papa. Campanhas com fotos suas foram feitas nas ruas, algo incomum, uma vez que os cardeais são proibidos de fazer manifestações do tipo.

Ele, no entanto, também envolveu-se em polêmicas após dizer que a África registra menos casos de abuso sexual porque muitos povos do continente reprovam o relacionamento de pessoas do mesmo sexo. Seu nome, então, passou a integrar a lista suja de cardeais acusados de compactuar com os abusos da organização americana Snap (sigla para Rede de Sobreviventes entre os que sofreram Abusos de Padres).

Turkson nasceu em 1948 em Nsuta-Wassaw, no sul da Gana, e estudou nos seminários de Santa Teresa e São Pedro. Em 1975, foi designado para a arquidiocese de Cape Coast, capital da região Central. Estudou em Roma, mas retornou para seu país natal, onde foi arcebispo de Cape Coast, presidente da Conferência dos Bispos Católicos de Gana e da Conferência Episcopal da África Ocidental. Participou do conclave que elegeu o papa Bento 16, em 2005, e do que elegeu Francisco.